Muitas vezes, não percebemos o esforço e os recursos empregados para fornecer a comida que chega ao nosso prato. A produção de alimentos demanda cerca de 30% do consumo global de energia, contribui com 31% das emissões de gases de efeito estufa, e a agricultura utiliza 70% da água doce disponível no planeta. Fertilizantes, maquinários, combustíveis e diversos insumos são empregados para aumentar a eficiência de produção. Portanto, quando um alimento não é consumido, desperdiçamos muito mais do que apenas nutrientes. Estamos jogando fora energia, água, insumos, combustíveis, terra e o trabalho de toda uma cadeia produtiva.
O desafio torna-se ainda maior diante da previsão de um crescimento populacional de quase dois bilhões de pessoas até 2050. Apesar dos avanços da tecnologia e dos métodos de produção, pouca atenção é dada ao desperdício, que corresponde a cerca de 1/3 do que é produzido. Curiosamente, um dos locais de maior desperdício é o ambiente doméstico. Basta pensar no lixo de casa: quanto do peso total está ligado a alimentos não consumidos? Na maioria dos lares, eles representam a maior fração, e acabam parando nos aterros sanitários, gerando gases de efeito estufa e chorume.
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Caminhos possíveis para reduzir o desperdício
O primeiro passo para evitar o desperdício é, simplesmente, evitá-lo. Compras planejadas reduzem excessos; observar a validade dos produtos ajuda a prevenir perdas; e, nos buffets, servir-se em porções menores evita sobras. O reaproveitamento para a criação de novos pratos, e a compostagem também são alternativas valiosas.
Empresas que processam grandes volumes de alimentos também podem agregar valor ao desperdício. Cascas, folhas e sementes, ou mesmo alimentos aptos para o consumo, mas “fora do padrão”, podem ser transformadas em ingredientes para a preparação de novos produtos.
Apesar das possibilidades existentes, pouco tem sido feito para minimizar o desperdício de alimentos e sua influência nas mudanças climáticas é pouco abordada. Uma ação integrada com os diferentes atores da sociedade é necessária nesse sentido, onde a ciência, a tecnologia e a inovação podem (e devem) ser utilizadas para a criação de soluções. Afinal, nossas dietas devem ser saudáveis não só para as pessoas, mas também para o planeta.
Um ambiente voltado à inovação alimentar
No Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSM, já desenvolvemos pesquisas e soluções voltadas à redução do desperdício de alimentos. Com a implantação do FoodTech FabLab no InovaTec UFSM Parque Tecnológico, esse compromisso será ampliado. O espaço será dedicado à prototipagem e validação de tecnologias inovadoras, emergentes e sustentáveis para o processamento de alimentos.
Ele permitirá que pesquisadores, empreendedores e empresas desenvolvam e testem produtos e processos em condições controladas, inclusive soluções destinadas a reduzir perdas na etapa final da cadeia de alimentação. Hoje, já promovemos o Foodtech Skills, programa de capacitação profissional voltado à disseminação de novas tecnologias do setor de alimentos — e aberto para a comunidade.